domingo, 15 de agosto de 2010

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Olívia havia telefonado e já era tarde da noite. Danny lia um livro sob a luz amena de seu quarto.
Uma vez ou outra, tinha a impressão de que a luz piscava, um segundo depois, estava tudo claro de novo. Às vezes, achava que a luz que ia embora, era a luz de sua cabeça.

─ Consegui aquele encontro com o escritor! Anote o endereço.

Apalpar objetos naquele tipo de luz era um desafio.

─ Pode falar.

Pelo que havia anotado, julgou ser um café típico de São Paulo. Arriscava conhecer o local pelo nome. Seus olhos pairaram, fitando o contorno contrastante de tinta sob o papel, do contorno para as letras, das letras para o papel.
Suas orbes pulsavam, como se o sangue de todo o seu corpo tivesse sido transportado para os olhos.
Sentia um vibrar, a sensação morna que os cobertores lhe presenteavam era relaxante.
A íris de seus olhos dançava, admirando as letras, os números, a informação.
Embriagava-se sem total controle, queria segurar o tempo. O relógio, de repente, pareceu-lhe perturbador. Como se cada badalada fosse única, nunca mais iria voltar, não a mesma.
Estava em outro lugar.
Ele sabia que não era o seu quarto, no fundo, esperava sentir cheiro de comida. Mas não sentiu. O odor era outro.
Suas pernas tremiam em sintonia com um desespero extasiante.
Naquela pequena sala, no velho sofá torto, de couro encardido e pesado, esperava por uma resposta, uma resposta que poderia mudar sua vida.
Mas o que realmente poderia mudar? Se a certeza fosse certa, não existiria o talvez, sem o talvez, o não seria incompleto.
As dobradiças enferrujadas de uma porta rangiram, a sombra de alguém começava a clarear.
Foi o sol, que interrompeu o abrir e fechar de lábios de uma boca seca, desgastada de belas palavras.
Estava suando, a camisa do pijama azul colada em suas costas. Seus dedos estavam dormentes, e quando foi movimentá-los quase cortou-se.
Encontrou um papel, de letras pretas, pouco borradas com seu suor.
Agradeceu mentalmente à amiga, o endereço contemplado na noite passada não era uma saleta.