sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

How could you know, George?

─ Você acordou cedo.
─ Eu quero fazer as coisas diferentes hoje.
─ Por quê?
─ Não sei, acho que estou diante de uma grande mudança.
─ Oh, vai sair?
─ Vou sim, logo mais estou de volta.

E foi, andando pelo asfalto de sua calçada com um ar de quem era descobridor. Descobria cada detalhe que sua rua lhe proporcionava, parecia neurótico.
Mas ainda assim, percebeu coisas que há anos nem imaginava que pudessem existir ali, como o cheiro da manhã misturado com a chuva da noite passada. Era um remédio para a sua alma, pena que descobrira somente agora.
Teus passos diziam muito sobre ele, teu olhar mais ainda. Olhos profundos, sorriso de garoto que sabia exatamente o que queria, e bastava uma fala, já conseguia.
Não se aproveitava de seus encantos, mesmo quando esta fosse a única maneira de sair de uma encrenca.
Adorava olhar nos olhos delas, de ombros erguidos, mãos nos bolsos: ─ "Eu não sabia disso".
Estava encrencado? Quem estava mesmo? Oh, quase perdi-me ao contar a maneira que ele escapava de seus problemas, que diante dele, eram menores do que as formigas que corriam de seus pés no campo que agora pisava.

O vento levantava a barra de seu casaco, este dançava com seus cabelos, deixando-os despenteados, de uma forma que não o deixava menos bonito, muito pelo contrário. Quanto mais deixava a vaidade de lado, mais ela queria estar junto a ele.
Como uma amante louca, que mesmo rejeitada, não saía dos pés de seu amor.
E ele é tão doce que quando o sol está vindo, e o encara por todas as manhãs, este brilha mais. Como numa disputa celestial que o envolve de prazer. Porque brilhar para uma estrela, e ter o reflexo dela direcionado a ti, era mais que um fenômeno qualquer, era a graça de conhecê-lo.

Há tantas coisas para se falar, há tantos versos para cantar... E hoje o que ele faz? Contempla sua vista de um bosque qualquer, que daqui alguns anos, será épico por ter tido a sua presença. Que ironia...


─ Hey, aí está você.
─ Olá.
─ Por que está aqui parado?
─ Contemplando a vista, não é bonito?
─ Muito.
─ Hoje as coisas parecem diferentes.
─ Eu sei que dia é hoje, não precisa lembrar.
─ Não estou querendo te lembrar, nem eu mesmo lembrava.
─ Mentiroso.

Ambos riram, encostando-se em um galho de uma árvore qualquer.

─ Você não costuma acordar tão cedo, pensei em passar na sua casa depois das dez.
─ Hoje eu quis fazer tudo diferente.
─ Hm.
─ Sabe? Essa viagem vai mudar as nossas vidas, eu sinto isso. E quem dirá que iremos estar aqui novamente? Tranquilos?
─ A idéia soa ruim?
─ De modo algum, é ótimo mudar. Mas hoje estou tão nostálgico que sinto a necessidade de fazer coisas que não me importava tanto.
─ E você mal tem dezoito anos.
─ Tecnicamente, nem dezessete. Nasci bem depois das nove.
─ Nasceu para a gandaia.
─ Certamente.
─ Te trouxe um presente.
─ O quê é?
─ Deixei na sua casa.
─ Não disse que iria passar lá depois?
─ Não, só disse que passei aqui e te vi.
─ Então teve certeza que eu não estava em casa.
─ Sim, é só você quem faz anos hoje, George. Ou tem uma irmã gêmea para mim?
─ Cala a boca, John.
─ É, tudo vai mudar.
─ Vai mesmo.

E mudou. De forma tão gritante que ele estava totalmente certo. A vida mudou, a rotina idem. Pois nada poderia ser diferente, estava destinado a eles ser o que tornaram-se.
A inspiração que temos até hoje, a compaixão e a paz que dá ao ver de perto esse trabalho maravilhoso que mudou tantas vidas...

"Hoje quis fazer diferente, pois acredito que isto realmente tenha acontecido, e se não, deverá estar acontecendo em algum lugar. Com a presença de ambos, nenhum lugar é escuro. O sol não me deixa mentir, porque ele sempre virá."