sábado, 6 de novembro de 2010

I will always be here.

Alguns nascem em berço de ouro, outros nascem em berço de prata. Eu não nasci em berço algum, foi numa caixa de papelão. Velha, rasgada e amassada. Pelo menos servia para proteger-me de uma fria madrugada. Meus irmãos e eu, vagando por uma noite cheia de curvas de sobrevivência. Nossa mãe estava cansada, sabíamos disso e mesmo quando pequenos, procurávamos algo para ela comer, afinal de contas tínhamos que ter um leite para ter força.

Certo dia, a velocidade de um carro a tirou de nós. Foi uma noite triste. Tudo acontecia na madrugada, parecia uma espécie de maldição. Eu que era uma criatura que deveria gostar da noite, acabei odiando-a. Em tempos escuros eu me escondia, fechava os olhos e torcia para que nada desse errado. Para que outras raças não pensassem que seríamos algum tipo de banquete.
Meu irmão Lerry era o nosso líder, mas também o considerávamos como um pai. O mais experiente deveria ser respeitado já que cuidava de nós, mesmo que um membro acabasse em qualquer encrenca.

Éramos uma gangue para os de fora, os de dentro uma família. Nossos laços eram de sangue, de carinho e de solidariedade. Mesmo que muitos não acreditassem que tínhamos sentimentos um pelo outro. É claro que tínhamos sentimentos, como alguém não pode ter?
Sentimos dor quando somos chutados e choramos quando temos fome.
É triste quando alguém se vai, eu notei que isso acontece com frequencia. E na maioria das vezes não é culpa nossa. Eu poderia passar a vida toda desse jeito, vivendo por sorte e por comida.
Acontece que um dia as coisas mudaram.

Alguém me achou e resolveu tirar toda a minha frustração de uma só vez.
Senti saudades de todos, confesso. Foi um choque quando me separei deles, nunca havia acontecido isso comigo. Eu sempre fui um perdido, mas nunca me desencontrei de meus semelhantes.
Eu deveria testar, saber se era realmente melhor para mim. Foi o que Lerry me disse:
"Você precisa agarrar as oportunidades que a vida coloca em seu caminho. Deixa de bobagem e vá viver de uma forma melhor."
Eu fui, e tornei-me feliz. Feliz como nunca fui na vida.

Era ela tão bonita e tão carinhosa que foi inevitável a minha paixão por ela. A esperava em casa sempre que faltava alguns minutinhos para ela chegar, e quando acontecia meu coração pulava de alegria.
Uma sensação de prazer misturada com o doce sabor da paixão, ah... Como é graciosa a paixão.
Eu apaixonado por ela, e ela por mim. Eu o seu mascote, ela minha dona.
Tudo foi bom enquanto durou, até ela chorar pela minha ausência. Eu a vejo chorando e tenho vontade de abraçá-la, mas não posso.

Sei que ela não me vê, mas sempre estou com ela. Talvez sinta por eu estar tão próximo. Espero que um dia ela consiga me ver novamente.
Eu a observo todos os dias, agora não fico restrito a casa, posso segui-la para onde ela for. E eu sigo, detesto ver que suas amigas recomendam um substituto, mas sorrio quando minha pequena se recusa e diz que eu sempre serei único.

Seu único gato, Xip .