sábado, 5 de fevereiro de 2011

When a ghost is alive

No passado ao olhar as janelas, víamos pássaros, aviões e pessoas pulando de pára quedas. Hoje, só podemos ver os carros, e alguns acidentes envolvendo máquinas e nuvens cinzas.
A tecnologia cresceu tanto que algumas profissões simplesmente morreram como os velhos idiomas.
Hoje o mundo fala apenas uma língua, que é a mistura de todas. Foi uma forma de tentar unir as nações, que nem sempre deu muito certo.
Tudo estava diferente, as pessoas tentando cada vez mais passar de um nível de inteligência para outro superior.
Eram poucas as pessoas que não tinham noção alguma, e eu era uma delas ao ver dos homens de branco a minha frente.

─ Você tem certeza que quer isso? Pode afetar tudo o que conhecemos. Existe um filme que relata isso.

Segurei um riso para não parecer tão insensível. Era óbvio que estavam preocupados, mas para mim não era nada a não ser uma tentativa de ter meu mundo de volta.

─ Vocês me trouxeram pra cá  por um erro, temos que concertar isso.

─ Mas você quer voltar bem antes de onde a tiramos.

─ Eu preciso arrumar algumas coisas. É importante.

─ Não pode alterar... Seria...

─ Loucura. Já sei. Mas eu preciso, tudo bem? Preciso avisar as pessoas do que as esperam, entendam.

─ Vai comprometer o nosso futuro.

─ Um dia irão me agradecer. Agora vamos logo com isso!

Despediram-se.

O túnel a engoliu de forma aterrorizante. Não sabia se sentia dor, ardência, medo, pavor, ou alegria por estar na época certa de seus desejos mais íntimos.
Caiu em um bosque confortável. Deu graças aos amigos por terem tido o cuidado de usar a grama como cama provisória.
Arrepiou-se ao ouvir outro idioma, e aquele lugar... Estava frio, algumas lojas já possuíam grandes pinheiros para o Natal.
Um Natal que poderia ser normal ou não.

─ Você está bem? ─ Uma garota de cabelos loiros estendeu a mão para me levantar. Seu estilo era da época, e por dois segundos, eu me senti fora do contexto.

─ Estou, obrigada. Foi só uma tontura.

─ É a emoção, não é? Já vi pessoas passando mal hoje, várias delas. Tudo por causa dele, mas é natural. 

Um aceno de janela já é o suficiente para um AVC.

─ Ele quem?

A garota fitou-me curiosa, estudou o meu rosto, e depois minhas mãos. Ela queria ter certeza se eu não iria cair novamente.
Enquanto ela fazia um check up em mim, eu olhei a minha volta. Paralisada.
Pessoas segurando discos, livros, camisetas, lágrimas.
A emoção de estar no lugar que eu nunca estivera, e ter a sensação de que eu sabia de algo.

─ Pode me dizer que dia é hoje?

─ Oito de dezembro.

Congelei. Teria que agir naquele dia mesmo. Eram oito horas da manhã, e meu corpo parecia extremamente cansado.

─ Preciso de um café.

O líquido negro tinha um gosto nostálgico, era cativante estar ali. Não entrei na cafeteria, precisava ter foco.
Julie queria saber de onde eu era, o que eu fazia lá e o motivo por aparentar estar cansada.
Menti. Inventando histórias de prontidão. Ela poderia me agradecer mais tarde.

Nos despedimos, e eu sabia que jamais voltaria a vê-la.

Meu coração saltou quando avistei um rapaz com um livro nas mãos, este sim possuía mãos trêmulas, quem sabe na mesma freqüência que as batidas de meu coração?

─ Será que você poderia me emprestar a caneta?

─ Claro.

Sua voz soou como pedras em meu estômago. Ele havia falado comigo, ele havia sido gentil, mesmo que eu soubesse que sua cabeça estava muito longe daquele pedido casual.

─ Mark, não é?

Suas costas permaneceram rígidas, pareceu uma eternidade o intervalo de tempo em que ele virou de frente pra mim.

─ Como sabe?

─ Simplesmente sei. E não é só isso, eu sei de muito mais. Não acha que cinco balas são fatais? Essa arma não é digna de quem é tão devoto a Deus.

Olhos apavorados me fitavam, eu podia saber o que passava em sua cabeça agora.

─ Não sou uma alucinação, e nem um anjo que veio te salvar. Em partes vim salvar alguém, mas não é você.

─ Está me enganando.

─ Ah, é? Contou para mais alguém que pretende matar John Lennon hoje por causa de um livro e de vozes que mandam em você?

─ Você não existe.

Soquei seu ombro com força, ele cambaleou para trás, irritado.

─ Abra os olhos. Você está doente.

Ele ainda não havia se conformado que seus segredos já não eram tão secretos. Engoli em seco levando a mão ao bolso esquerdo, de lá, tirei uma foto que havia pego na internet. Mostrei à ele, junto com um jornal amassado do The New York times.

─ Não...

A foto do corpo de Lennon em um necrotério foi o suficiente para ele ganhar o aspecto de um fantasma. A data do jornal com a matéria publicada e ao centro, uma foto de Mark manchada com todo aquele crime bárbaro.

─ Você nunca mais vai sair da cadeia.

─ Ninguém vai acreditar em você.

Abri outro jornal, este com uma data de mais de vinte anos à frente.

─ Vê? Ele vai morrer disso porque não conseguiu suportar a dor da perda do parceiro. Quer matar inocentes? Quer saber quantos jovens irão cometer suicídios só nesta semana? O céu nunca será o teu lugar.

Mark chorou. Abraçando-me tão desesperado que senti remorso por querer lançar uma faca em suas costas.

─ Eu não consigo parar.

Sua voz ficou distante quando vi um rosto cheio de vida numa janela alta. Ele parecia tão feliz, tão distinto. Tão nobre...
Eu sabia que nada adiantaria, me senti culpada.

O calar da noite veio, e Mark continuava a perambular pelo Edifício Dakota. O vigia informava-lhe as horas sempre, e ele parecia estar irritado com isso.
Uma angústia invadiu meu corpo como nunca sentira antes. Era trágico esperar pelo fim.
Havia uma porta nos fundos destrancada. Foi sorte. Entrei, sendo barrada por um segurança,

─ Vocês não desistem mesmo, hein?

Eu o fitei com uma amargura enorme. Seus olhos verdes perderam-se em minha íris marejada.

─ Eu juro pra você que não quero nada, só não deixe John sair do edifício. Por favor. Mantenha-o aqui, prenda-o.

O jovem não era tão alto, mas por eu ter menos de um metro e sessenta, parecia monstruoso. Não tinha mais do que vinte e três anos, ele me soltou.

─ Por quê?

─ O cara que o espera está armado, ele dará cinco tiros nas costas de Lennon dentro de uma hora.

Li o nome em seu uniforme, era Hector.

─ Tem provas?

Joguei a foto e os dois jornais na cara dele, voltando a chorar como uma garotinha.

─ De onde você veio?

─ Do tempo, do céu, do inferno. Pare de tentar causar a morte quando estou tentando evitá-la.

Hector me puxou pela cintura, acompanhando os olhos na foto de Mark. Eram iguais.

─ Acredito em você. Vou te deixar entrar.

─ Pra quê?

─ Tenho um plano.

Arrisquei. O que restaria, afinal de contas? Subi algumas escadas, caminhando por corredores e paramos em um gabinete.
Eu o avistei, cerca de dois metros de distancia apenas. Ele olhou para Hector, e depois para mim.

─ Hm, o quê foi?

─ Senhor, essa senhorita precisa falar algo urgente.

─ Autógrafo? Eu a vi lá fora, Hector... Você não pode trazer garotas aqui só porque as achou bonitas...

─ Eu não quero nada. Eu só quero salvar a sua vida. Mas que droga!

Yoko apareceu a nossa frente, confusa com tudo.

─ Por que choras, querida?

Entreguei os papéis à ela, não era o bastante.

─ Pagou quanto ao jornal para publicar isso?

Respirei fundo, entregando a foto que os calaria. Yoko soltou um grito, os jornais caíram.

─ Eu nunca tirei uma foto assim em toda a minha vida, amor.

John olhou-me nos olhos, eu chorava tanto que sua imagem ficara embaçada. Devolveu-me os papéis, demonstrando preocupação.

─ George é um sacana por fumar mesmo.

─ Senhor, acho que podemos saber se ela está falando a verdade.






Cinco disparos, gritos, um corpo caído.



Estava falando a verdade? Sim, estava. E para os olhos do assassino, sua vítima levantou, olhando-o com desprezo.

─ Acha mesmo que meu último autógrafo seria para você?

Balas não atravessam coletes a prova delas, balas jamais poderiam entrar em contato com uma vítima que fora avisada. E o destino dele era o mesmo, trancafiado para sempre.

Eu havia avisado.

E como se nada acontecesse, tudo fora mistério. John declarara ter tido um sonho com alguém o avisando sobre a possível fatalidade.
 Ninguém lembrava de meu rosto. Apenas um.

─ Vou te ver de novo?

─ Não sei, talvez eu o veja velho. Mas sei que irá lembrar desse segredo.

Abraçou-me, como se sentisse uma saudade enorme. Beijou-me logo em seguida, voltando seus olhos tão verdes para os meus.

─ Prometo jamais esquecê-la.

A dor novamente chegou, e parecia não doer tanto por ser conhecida.

Abri os olhos ouvindo uma canção na voz de um sobrevivente. A letra parecia distante, ainda estava embriagada com o sono, mas um trecho pude captar:



Sonhei tão acordado que um anjo eu olhei, 
dizendo-me coisas das quais duvidei, 
ela tão paciente mostrou-me a prova, 
e eu tão inconsciente arrisquei-me com a cova.
Ela sumiu depois que sobrevivi, estaria ela 
ouvindo esta canção em algum lugar? 
Obrigado, querida. 
És a garotinha que sempre irei recordar...”

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

You're my favorite color

A vida sempre fora comparada aos jogos de tabuleiro. Onde o mais inteligente, que possuir uma estratégia melhor, conseguirá chegar ao outro lado. Um lado de vitórias, caminhos claros e finais melhores do que o jogador espera.
Há algum tempo atrás eu pensava que essa comparação era concreta. Mas como de costume, não vejo que algumas certezas tenham somente o lado certo.
Em um jogo de tabuleiro, por exemplo, as nossas peças podem atrapalhar uma jogada perfeita, porque ocupam aquele lugar que deveríamos guardar, mas que fora usado sem pensar direito.
Isto não é culpa de nosso adversário, é nossa. Só que é tão fácil culpar quem está a nossa frente, levando vantagem em absolutamente tudo, e mesmo assim, com aquele sorrisinho de canto que diz muita coisa quando seus olhos piscam com a mesma freqüência de um flertador de pôquer.

Jogos são jogos, e nunca sinônimos de piedade. Nos jogos você pode matar sem remorso, pois não custa nada. Tem gente que arrisca demais, arrisca esse jogo de verdade e acaba esquecendo que não somos feitos de plástico e nem de chumbo, que essas meras peças tem sentimentos, tem pensamentos e principalmente: Tem consciência dos próprios atos.
Uma frase relativa se quer a minha opinião, pois há tantos que fazem e decidem fugir para longe... O longe que acaba sendo o lugar dos prisioneiros da própria liberdade.

Hoje, não vejo as pessoas como peças. As vejo de modo totalmente diferente, cada uma é uma. E por mais parecidas que possam ser jamais serão iguais. Não há maneira de fazê-las terem os mesmos pensamentos.
Até a genética dá a sua ajuda em meu argumento tão simples, não?

Nunca seremos iguais...

Essa falta de igualdade é confundida, e por demência acabou sendo o palco principal de tragédias... Porque alguns jamais serão iguais, e se não tivermos uma ordem certa, o que será de nós?
Falta arriscar... Quem gosta tanto de arriscar, onde esteve nesse tempo? Por que não disse para nunca começar o que viria a ser algo terrível? Pobres diferentes... Distintos, sofredores, alguns vencedores.
Porque muitos perderam, porém, outros ganharam, ganharam a vida outra vez.





“A vida é como uma aquarela cheia de borrões. Por mais que o vermelho pareça com o cor de rosa forte, ele jamais deixará de ser o velho vermelho. Às vezes o azul vira verde, o verde azul, porém, sempre saberemos quem é o original.Nós somos as cores. A vida é como uma aquarela variada, porque as coisas simples, como a tinta, é que dão forma as mais belas obras de arte de nosso cotidiano.”