quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

They can drink time

Eram mais ou menos seis da tarde. O sol estava lá em cima cobrindo areia e mar, mostrando quem era que deixava as luzes acesas do céu para que as crianças pudessem construir seus castelos de areia. Uma onda vinha e levava tudo. Era como uma lição. Tudo que foi construído com esforço e diversão, um dia será destruído pela natureza. É bom preparar os pequenos, pois os grandes parecem não se importar muito com os ensinamentos que as gerações futuras precisam.

─ Por que você só chega na praia tarde?
─ Tarde? Não é tarde para mim.
─ Mas já passou das cinco.
─ E daí? O horário de verão diz que ainda são cinco. E eu não estou na praia.
─ Estamos numa montanha com areia e água?
─ Não. Estamos no calçadão da praia. Onde as pessoas andam de bicicleta, paqueram e correm com seus animais de estimação.
─ E por que estamos aqui?
─ A areia machuca a minha pele. Tá, pode rir. É mesmo uma viadagem, mas foda-se. Eu não gosto de pisar na areia.
─ Nem sete ondas no mar?
─ Nem isso. Nadar em água, sal, urina e outras coisas que prefiro não lembrar...
─ Mas que fresca!

A brisa começara a ficar mais fria, o fim de tarde se aproximava. Havia pessoas juntando seus guarda sois que já estavam fechados há muito tempo. Não havia necessidade de usá-los, depois de um tempo o sol não queima tanto quanto o do meio dia e o das quatro horas.

─ Você não se queima nem com mormaço, né?
─ Não, eu gosto de manter as coisas iguais. Se eu quiser pegar cor momentânea, uso o tal do bronzer. Hoje a maquiagem te transforma em qualquer pessoa.
E por que você está de óculos de sol?
Porque meus óculos tem esse tom de marrom, mas as lentes são amareladas. E quando os uso, parece que filtro todas as imagens como se estivéssemos no passado. As fotografias de polaroids ou mesmo lomos, sabe? Elas tem aquela cor que hoje chamamos de filtro vintage. Mas é muito bom ver o movimento das pessoas.
─ É estranho isso, eu sempre penso que nos anos setenta, as imagens eram amarelas como nas fotografias.
─ Isso é normal! Quando eu assistia os filmes do Chaplin achava que tudo já foi branco e preto. Existe coisa mais absurda e genial? Imagine tudo com apenas duas cores!
─ Não seria triste?
─ Não, seria clássico...
─ Lembrei de outra coisa.
─ De quê?
─ Das feiras livres. Já pensou isso nos anos setenta? Se tudo fosse amarelo, nas fotos as frutas parecem tão mais saborosas.
─ Sim, dá essa sensação porque sabemos que elas não existem mais. A fotografia é tão divina que te possibilita imortalizar as coisas. É meio masoquista até, você sente saudades e vai lá e a coisa continua lá! Nunca irão inventar algo que faça as coisas saírem das fotos?
─ Não, se não as pessoas não iriam morrer mais.
─ É... no fim todos nós temos que morrer.
─ Dá tempo de tomarmos uma tequila?

"Na linha reta do horizonte os últimos raios de sol se despediam das pessoas. Alguns esperançosos que eles voltassem amanhã, outros com uma tristeza por terem de partir. A despedida da praia nunca será prazerosa, mesmo para aqueles que a frequentam somente durante o fim da tarde. Nenhum outro lugar te oferecerá a liberdade. São tantos grãos, gotas, conchas e seres... Somos nós e esse quadro vivo"