segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Screen

Chegamos tarde, muito tarde. O sol já avisava com raios minúsculos que iria nascer. Uma luz tão bela e fosforescente que meus olhos automaticamente fecharam quando tentei ver aquele espetáculo natural.
Era formoso, mas não tanto quanto o que havia visto poucas horas atrás.
A luz era perfeita, não queimava meus olhos, mas também não dilatava minhas pupilas por sua ausência. Como dizia as pessoas felizes: "Está na medida!" com risos no segundo plano.
Uma arte, realmente só uma arte poderia nos tirar de casa, e não importava que horas eram, nós sempre tivemos um tempo dedicado à ela.

Você prometeu que nunca deixaríamos de viver nossos sonhos, e que não seríamos apenas narradores que observavam todo o enredo, seríamos mais, muito mais.
Em outras palavras, estaríamos vivendo nossas histórias, nossos dramas e romances. Tudo de uma vez só, sem pausa para os espectadores relaxarem de nossa vida. Eles não podem simplesmente abandonar seu posto, estariam negando tudo o que vivemos, um crime da arte.
Nossos movimentos são tão captados que as vezes pensamos antes de realizá-los, só para ter a certeza de que aquilo faz parte do ato.
Atos que variam, alguns gostamos de viver, outros lamentamos por acontecer.

Em despedidas damos o nosso melhor, pois é algo tão real que lamento por sua partida, meu rosto molha quando o trem deixa os trilhos e você vira pó.
Apenas pó, um pó que eu amei. Depois meus lábios passam a se contrair, forçando um sorriso quando você decide saltar e faz com que meu coração volte a bater. Somente você o controla, mas o faz parar quando resolve segurar a minha mão e tentar parecer sutil.
Você não consegue, é tão romântico que de seus olhos lágrimas nunca são vistas, mas sim uma emoção que encharca a nossa casa, a nossa história.

O ar está fresco e quando a noite volta a reinar os barulhos começam, em vez de termos um silêncio só nosso, como a gratificação de horas de um trabalho.
É engraçado ver você tão grande, e tão bonito se me permite acrescentar. A realidade é muito tola para tê-lo, já a fantasia parece abraçá-lo assim como você é, pois és tão perfeito que a realidade não pode aceitá-lo.
Eu jamais o recusaria, sabe disso. Briguei com a realidade e busquei viver em sonhos com você.
E nunca iremos acordar, pois já tornou-se um círculo tão vicioso que nada pode nos tirar daqui.

Você e eu fomos feitos para isso, para viver e mostrar que as coisas devem fazer sentido mesmo quando não pareçam. A verdade é que eu não posso mais sair disso sem você, e como sei que nenhum de nós um dia irá desejar deixar de fazer magia, assino aqui um compromisso eterno.
Nunca irei pensar em deixar de lado aquilo que acreditamos, pois eu acredito em você. Mesmo quando começa a chover e você resolve ir embora, eu sempre te esperarei, não importa quantos minutos a minha angústia durar, sei que voltará.

E dizendo tudo isso no caminho de casa, você ri e me chama de boba. Eu franzo o cenho e pergunto-lhe porque pareço boba.
Com um sorriso nos lábios você me abraça e diz que nunca me deixou de verdade, pois sempre que interpretava aquelas cenas, ficava oculto de olhos curiosos e me observava fazer o meu papel.
Então repetimos uma frase juntos antes de cruzar a porta:

"Eu jamais irei me despedir."