sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Coma




Como se um automóvel tivesse perfurado a consciência tornando o chão quente e não frio. A desordem que há neste corpo não torna isso mais trágico, talvez fosse necessário que antes de conseguir grandes conquistas seja preciso fracassar. Como uma chuva de antíteses num céu de paradoxos onde uma ventania não é poesia e sim eufemismo. Em coma profundo por uma vida onde nada além de seus anticorpos dançantes, a sua valsa está terminando, é hora de ser quem precisa ser. 


Para estar em pé ela deve cair. E cair forte. Mas não tropeçar sozinha. Cair. Ser jogada contra o chão. Concussão diária, semanal, mensal, anual, eterna. 


Nem todos os círculos são compostos por um infinito cuja saída não existe além de desespero, com uma dose de angústia e coragem a roda se transforma em ponte. Seus passos percorrem a superfície incerta deixando a própria linha do tempo para trás. Isso traz responsabilidades para esta que vos fala, mas aceitas de bom grado pela demora. 


Longa espera. 



je ne suis pas perdue | via Tumblr
O recesso foi preciso para que todas as energias pudessem se estabilizar. Estas mãos calejadas pelas ideias que não possuem começo e muito menos fim, que partem do meio de um ser que não conseguia acordar de seus males, de suas verborragias, da ausência de preenchimento e não presença de vazio.

Acabou.



O coma termina para que todos que aqui passam seus olhos cansados possam enxergar como há viagens necessárias para não só conhecer outros lugares, mas para conhecer a si mesmo.


Profundamente.


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Details of you


Há pares de olhos no mundo que enxergam muito mais. Não é preciso ter uma codificação mutante para isso. Basta apreciar vagarosamente o que há de mais belo nesse planeta chamado Terra, como por exemplo, eles. Suas sobrancelhas quando juntas de um cenho franzido fazem todo o sentido. A expressão de “estou puto com isso” ou “aquele cara está mesmo sendo tão babaca com você? Deixe-me quebrá-lo em alguns pedaços e usá-lo como tapete para minhas botas”. Sim, os pares de olhos por mais que se mostrem assustados ou mesmo quando dão risada de um homem bravo, realmente gostam disso. Claro que toda raiva tem um limite, eles não possuem a síndrome de Estocolmo para se apaixonarem por psicopatas que querem nos privar do mundo. Longe disso, esses sim. Detestamos e descartamos mais que coringa em jogo de baralho.


Os braços. Quando seus pelos estão eriçados por estarem com frio e ao mesmo tempo negarem porque acham que o casaco deles nos pertence. É claro que nos agasalhamos! Esse par de olhos sempre sai com mil jaquetas. Mas acontece que o tempo adora dizer que nunca será o suficiente, e involuntariamente abraçamos nosso próprio corpo para mandar a sensação de gelo para o inferno. E prontamente vem uma peça. Pode ser uma jaqueta de couro, um casaco verde militar com algumas estampas em relevo mal costuradas com suas bandas favoritas. Ou um blazer escuro que mesmo sendo enorme, parece se encaixar em nossos ombros perfeitamente como se fosse nosso, desse par de olhos e não deles. 



Suas bocas quando mordidas por tensão nos dão tesão. Seus dedos apertando um volante nos fazem imaginar quanta força mais eles são capazes de ter. E isso não tem nada a ver com o status de possuir um carro. Esse mero par de olhos não está ligando para isso, pode ser até uma Kombi roubada. Seria divertido vê-los passar as mãos pelos cabelos em sinal de nervosismo porque fomos presos. Gostamos quando temos entradas para eventos, mas apreciamos mais ainda as entradas bem marcadas de seus quadris que se movimentam num vai e vem sensual quando nos ensinam uma música latina. Parece que as notas saltam do disco e nos cercam, dançam com a gente. O dó, o ré, o mi. Todos fazem fila para poder te tocar, mas eles não sabem qual é a sensação. E por essa razão eu nunca quis ser uma nota musical. Porque o único local que elas podem realmente tocá-lo será em seu ouvido. 




Seus cílios longos nos olham por cima do livro que está lendo. O gostoso som da página velha sendo trocada por suas mãos nos causam uma inveja repentina. Queremos ser viradas, lidas, sentidas. Transformar a sua vida e ser transformada por sua consciência que entra em estado de êxtase quando nos terminam de ler. O sorriso de canto nos cerca, ambas as mãos nos bolsos daquela calça de sarja marrom escuro chocolate que combina tanto com o tom de pele de seus punhos. Aliás, poucas coisas parecem tão certas como quando suas mãos estão nos bolsos laterais de sua calça. 


É como se um novo mundo estivesse para ser descoberto ali. Algo fantasioso. Qualquer coisa dentro nos faz acender. Um isqueiro, uma chave, um mp3, uma agenda com seus poemas mais sacanas. É, quando vocês escrevem e nos deixam ler é como se estivessem alargando mais esses bolsos e nos dissesse para ir até vocês para dar uma espiada ali dentro e conhecer quem são os homens. 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Tease me


Olhos nas linhas,
dedos tensos em uma caneta,
fios de cabelo sobre a testa,
arfar ao respirar.


Calma...
Mais uma vez, risque, risque.
Amasse-me, pegue outra.
Isso.


Agora do começo,
assim mesmo...
Conseguiu?
Sorriu coçando a barba.

Como não se apaixonar pelos escritores?

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O escuro é elétrico


Quero pintar uma releitura da Monalisa,
tocar a nona de Beethoven até não notar
que comecei com ele e terminei com Chopin.
Eu irei escrever um best seller e
me tornar milionária em vinte minutos.


Lerei cinquenta livros de poesia e trinta de prosa pura.
Farei o melhor café que você já tomou na vida e pularei
na cama para todo o meu sangue corroer minhas artérias
pela velocidade de meus pulos.
Farei, farei mesmo.


Porque essa é a magia da madrugada.
Fazer-te ter vontade de voar com os pés no chão,
ser quem você sempre quis, usar anéis de saturno,
calcular física, cozinhar macarronada.
Essa é a fonte da noite.
Te dar a ideia de atos promissores não permitindo que durmas antes
do canto do bem te vi.

sábado, 10 de maio de 2014

Ice's cardiac

Deixe-me na beira da sarjeta,
onde os bêbados procuram a vida
que não são donos.
Quero ficar no sereno de minhas mágoas
pela ausência da sua presença.

Tenho que sentir a última gota de
chuva forte, que deixe-me doente,
que não haja cura, tenho de sofrer....

Me deixem jogado com o ardor de
meus pensamentos junto das feridas
que não se vê.
Preciso lembrar, preciso sofrer...

A arte vem da dor que chega sem avisar.
A dor traz a paz posterior, amarga como
teu rancor.
Para relatar esses versos deixe-me aqui
e vá embora, tenho que sofrer sozinho,
remoer a nossa história.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Cela XVII

Riscou um fósforo perdido pelo rodapé das paredes secas e com pouca luminosidade. A única janela estava escura, deveria ser outra noite não notada e sentida pela ausência quando esta fosse embora. Os ruídos diminuíam conforme os ponteiros curiosos corriam, aparentemente todos temiam tais ponteiros, pois sempre os observavam com as íris preguiçosas lamentando pela corrida ser tão devagar.

─ É como se eu nunca fosse me encaixar neste mundo. Teria alguém cometido tamanha maldade em me trazer para tempos sem a pureza dos clássicos? Oh, como esse vazio em meu peito há de ser preenchido? Que sensação é essa de querer gritar quando todos são surdos e quem vos fala completamente mudo às quatro da madrugada? Por onde andam os violinos tocados pela paixão? Seria a exterioridade tão poderosa a ponto de condená-los também?

Nesta terra, o aroma é fresco, mesmo que ela seja antiga e esteja com vestígios de desleixo. Alguns sons me são familiares, o fogo agindo sobre essas novas texturas que não recordo o nome, mas que são pálidas e capazes de guardar qualquer mensagem. Até mesmo esta, a de um jovem com muitos anos preso em sua ampulheta.

Perdoem-me, mas os grãos correm para os braços da gravidade, eles não me ofereceram cavalos velozes, não há como sair de um lugar tão insignificante, tampouco mapa para os meus serem guiados até aqui. Tão diferentes, me colocam para dormir com atrevimento informal.
Me vestem de branco como a textura de mensagens como essa que tratei de registrar caso eu esqueça quem sou ou para a maior infelicidade do impossível, me lembrar de quem não sou no lugar que não pertenço.



quarta-feira, 30 de abril de 2014

Dance, silly poet.


O homem é tão poeta quando observa
o que é belo e invisível.
Se estica para alcançar o que não vê
e se encolhe para tocar o que desconhece.
É a curiosidade sobre tantos frascos cujo
aroma é singular.


Quando o homem segura sua caneta e
valsa com ela, o mundo sorri e lhe dá
algumas horas a mais.
Os poetas não dançam parados,
mas sentados com os sapatos no chão,


Escreveste um bilhete sem destino,
ora, a quem devo entregá-lo, poeta?
E sorrindo vem maroto com seus dentes
brancos e maliciosos.
Quem precisa de destino se a bússola
de meus sonhos aponta para o papel
mais próximo da mesa?

terça-feira, 8 de abril de 2014

Fire's planet.

Hoje Marte está próximo de nós,
não me abandones por nenhum segundo sequer.
Posso ver Marte todos os dias
em todas as coisas.
Irei à Marte,
e de lá prometo amar-te,
dentro do mar regado à arte.
Amar-te.



quinta-feira, 27 de março de 2014

Ciclo

Quando as noites ficam claras
e as manhãs ficam escuras,
a água desce amarga provocando efeitos endêmicos.
Então deita em sua cama de modo não dormente.
Mas sente! Cada resquício de desconforto com
o peso em sua escápula.
Descansa o teu atlas, talvez o quebre.
Rasgue seus mapas, teus delírios, tua sina.
Liberte a efígie de seus medos.
Calafrios estendidos no hall dos militantes.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Lã alfabética

Não sei rimar, 
não sei fazer poemas,
não sei falar de amor,
mas aos que choram por não
terem a poesia dentro de si, vejam
como as palavras são mágicas e
mesmo sem saber tricotar letras,
assim o fiz, e eis aqui um casaco de escritas
quentes pra você não sentir frio.

Carnaval solitário

E de repente aquilo que era feliz 
passou por uma transformação surreal,
o contente já não tem mais riso,
amanhã não será mais carnaval. 

O ano começa para todos agora,
mas sem pressa, com demora,
ninguém precisa ter duas segundas feiras
às quatro horas de uma aurora boreal. 

quarta-feira, 5 de março de 2014

Stay a while

Fica um pouco,
senta comigo.
Tome alguma coisa,
mas não leve toda a sua presença consigo.
Ainda resta muita saudade comigo.

Fica.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

A dor interna

Ai de mim por existir em tal mundo
cheio de ternos e gravatas que sufocam-me a cada dia,
pobre daquele que toma um café de máquina quando tem
vontade de mastigar os grãos enquanto vai para casa.

Ai de mim por ter aqui e somente aqui aquelas tristezas
que refletem num espelho sujo e quebrado.
Por meus irmãos que estão aqui confinados,
que cada capítulo dessa vida miserável seja menos insuportável
que o dia anterior.

Ai de mim por não ser levado a sério, por ter que orgulhar
a quem não quero, pelas notas e não números, pelas palavras
e não salivas orais, pelo amargo teor de realidade.

Ai de mim por não viver de poesia.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Tela viva

Pingos prateados,
manchas cinzas,
fenômeno da natureza auxiliando o processo,
tela bipolar, não para de mudar.
A cada doze horas, passa por uma monocromia
inconstante.
Quadro com alma, pintura surreal?
Não. Só estive olhando para o céu.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Olhos prolixos

Tem dias que eu quero fechar meus olhos e ver o que o mundo tem de tão belo. Fechar os olhos para enxergar não é tão antítese quanto parece, pelo contrário, pessoas que não podem enxergar são capazes de ver através de outros sentidos que se tornam aguçados, deitar as pálpebras em uma derme absoluta não parece ser um breu total, afinal.
Quanto ao meu repouso ocular, não se trata apenas de cochilo. é mais do que isso. Quero contemplar o que há de natural. Ver no escuro não é um bicho de sete cabeças, você pode enxergar manchas ou achar que está vendo fumaça colorida. E acredite, você não precisa de figurinhas de LSD para que isso se transforme em realidade.
O belo está ali para ser desvendado como um bom mistério, Sir. Arthur Conan gostava de imaginá-los muito mais visíveis, pois seu personagem mais famoso conseguia ver coisas que as outras pessoas não poderiam ou que apenas não queriam ver por conforto.

No chão por onde passo há várias pegadas, impressões digitais, cenas de crimes de séculos, há fios de cabelo com DNA de pessoas que eu não conheço. Há um universo paralelo de seres minúsculos, mas é claro que não precisamos ficar de olhos abertos o tempo todo para saber que eles existem.

Uma das coisas que se pode usar quando nossa visão não nos auxilia é o tato. Foi através dele que eu notei que a água é uma boa amiga. Essa substância tão rica que nos é essencial prova sua lealdade cada vez que tomo um banho. Quando estou sentada no box com os joelhos dobrados, as gotículas de água tem duas opções de percurso: Ou elas tocam minha pele e escorrem por ela como uma carícia íntima ou batem em meus joelhos e se dividem. Noto pelos respingos que formam ao lado. Penso que ela é tão leal que em vez de provar de uma liberdade em uma superfície de um box cheio de vapor, ela prefere dividir-se em duas. Para ir embora pela metade e continuar comigo. Como uma despedida eterna, de passos que se vão e que voltam em um ciclo vicioso do qual o termo viagem sempre está distante.


"Olhai por onde passas, os passos que tens tão certos podem não ser corretos. Há uma ponte muito velha da qual a sua visão diz que não pode atravessar. A superfície balança com qualquer brisa, mas ela ainda está intacta. Atravesse, com pressa, com certeza? Claro que não, mas atravesse. Mesmo que alguns pedaços de chão caírem, mesmo que o céu pareça uma enorme janela, mesmo que a cortina seja a sua morte. Mas por teus passos tão certeiros, mais que prolixos, passos teus, passos meus, passos de quem por ali apenas passou"

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Whispering noises

Passei a apreciar as noites em claro pelo silêncio terno,
pelas vozes cheias de estresse e cansaço.
É na cama que não ouço, é no berço matutino que não
há problemas maiores que um lençol amassado ou
um travesseiro gelado.

Em prédios cujas luzes ainda se apagam, os passos
são mais lentos, a gentileza floresce às duas horas
para com o vizinho do andar de baixo.

Não se usa salto e secador, usa-se o sussurro
que nem é tão usado, mas que neste período está
ficado em ser somente sussurro e não voz,
um grito não ouvido, soluço comprimido.

A madrugada nunca foi silenciosa.
Só há a vontade de mantê-la calada
na prisão de urros e delírios.