sexta-feira, 13 de abril de 2018

I am wild because i don't want to read today


A data de lançamento era no dia 22 de fevereiro de 2008, o pior ano da minha vida. Entretanto, os acontecimentos que me levaram ao fundo do poço ainda não tinham ocorrido, portanto, era uma data como outra qualquer. Por essa razão não prestei atenção, ainda era muito jovem e não havia despertado dentro de mim o platonismo e tamanha obsessão pelo cinema. É por isso que temos um lapso de três ou quatro anos após a estréia. Digo mais ou menos porque ainda não me recordo, embora muito tente, se o vi em 2011 ou 2012, mas lembro bem que estava no ensino médio, com aquela tensão de pré vestibular que parecia o fim do mundo. Naquele momento, realmente era o fim do mundo já que eu não me sentia boa o suficiente para fazer uma faculdade, a cabeça ainda fazia mil perguntas sobre os acontecimentos que travaram quem eu me tornei hoje somado as reprovações em matérias contendo cálculos absurdos. Isso não mudou, eles continuam absurdos e nunca deixarão de ser. A questão coincidiu com o roteiro, já que eu só começaria a estudar para entrar na faculdade mais para o meio do ano, então no primeiro semestre daquele ano incerto para sempre, eu dediquei o meu tempo a assistir filmes. 


Baixava todos os dias filmes com posteres que eu achava bonito, história interessante, sinopse envolvente. Foi então que eu vi um cara meio magrelo sentado em cima de um ônibus azul. O título traduzido "na natureza selvagem" me pareceu algum documentário do discovery, mas era muito mais que isso. O Into the Wild foi um filme que eu vi e não me impactei até o final, claro, o cara morrer por ter ingerido uma planta venenosa me parecia algo absurdo demais até saber que o filme foi baseado em fatos reais, que o cara existiu, que o ônibus ainda tá lá (embora o filme não tenha sido rodado lá e sim em uma réplica por questões de respeito e história em conservar o bem patrimonial cultural por assim dizer) e que fugir do mundo foi o ideal de alguém. 

Na hora pensei: "mas que absurdo", como quem estava desiludida por terem falado tanto daquele filme e não ter me impactado, mas hoje, quase seis anos depois de ter visto o filme eu entendo perfeitamente.  Não no sentido de querer a mesma trajetória e o mesmo fim, mas no sentido de fugir de forma não literal. E por incrível que pareça, eu diria literal pela leitura. Fugir das manchetes, das notícias do mundo, fugir dos conflitos travados, fugir da política atual, fugir da intolerância com qualquer coisa que seja contrária ao que as pessoas acham correto. É, fugir.

O mesmo verbo que para mim, aquele filme retratava de forma absurda. Mas veja bem, fugir do jornal hoje é mais relaxante que qualquer ilícito que você, caro leitor, ouse a usar em sua vida.
Perdi a conta de quantas vezes fui questionada sobre algum acontecimento. "Você viu isso?", "Você acha que vão deixar?", "Tá rolando a maior treta em tal lugar, você viu?"

E a minha resposta, inúmeras vezes foi a mesma: "Cara, não vi."

Quando eu estava no ensino médio os professores berraram com seus pulmões inundados de giz de lousa verde infantil e odor de canetão permanente em quadro branco: "Leiam jornal"

A desculpa era que a gente precisava ler jornal para saber o que estava acontecendo no mundo e consequentemente, o que o enem iria pedir em sua redação, quais temas provavelmente seriam solicitados nos vestibulares.

Leiam para entrar na faculdade.

Engraçado, hoje temos que NÃO LER para SAIR da faculdade.

Meus colegas de curso não sentem o cheiro de um livro de literatura há anos, não conseguem mais escrever ou fazer alguma coisa que lhes dê prazer. Não podemos passar horas lendo o jornal e as manchetes da época do enem porque aquilo é distração, não é doutrina, não é livro técnico, então consequentemente, não serve. 


A real razão da menção do into the wild é que não tenho vontade de ler as manchetes atuais e nem os livros técnicos. Tenho vontade de fugir dos jornais como fugiu o personagem do filme, queria poder ler apenas o que me desse prazer, seja livros de literatura ou notícias favoráveis a libertação animal plena. Mas não quero ler o que eu tinha que saber antigamente. 



"Não, eu não vi a notícia de hoje."

"E quer saber?"

"Eu adorei não ler nada hoje porque eu estou into the wild. "