sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Olhos prolixos

Tem dias que eu quero fechar meus olhos e ver o que o mundo tem de tão belo. Fechar os olhos para enxergar não é tão antítese quanto parece, pelo contrário, pessoas que não podem enxergar são capazes de ver através de outros sentidos que se tornam aguçados, deitar as pálpebras em uma derme absoluta não parece ser um breu total, afinal.
Quanto ao meu repouso ocular, não se trata apenas de cochilo. é mais do que isso. Quero contemplar o que há de natural. Ver no escuro não é um bicho de sete cabeças, você pode enxergar manchas ou achar que está vendo fumaça colorida. E acredite, você não precisa de figurinhas de LSD para que isso se transforme em realidade.
O belo está ali para ser desvendado como um bom mistério, Sir. Arthur Conan gostava de imaginá-los muito mais visíveis, pois seu personagem mais famoso conseguia ver coisas que as outras pessoas não poderiam ou que apenas não queriam ver por conforto.

No chão por onde passo há várias pegadas, impressões digitais, cenas de crimes de séculos, há fios de cabelo com DNA de pessoas que eu não conheço. Há um universo paralelo de seres minúsculos, mas é claro que não precisamos ficar de olhos abertos o tempo todo para saber que eles existem.

Uma das coisas que se pode usar quando nossa visão não nos auxilia é o tato. Foi através dele que eu notei que a água é uma boa amiga. Essa substância tão rica que nos é essencial prova sua lealdade cada vez que tomo um banho. Quando estou sentada no box com os joelhos dobrados, as gotículas de água tem duas opções de percurso: Ou elas tocam minha pele e escorrem por ela como uma carícia íntima ou batem em meus joelhos e se dividem. Noto pelos respingos que formam ao lado. Penso que ela é tão leal que em vez de provar de uma liberdade em uma superfície de um box cheio de vapor, ela prefere dividir-se em duas. Para ir embora pela metade e continuar comigo. Como uma despedida eterna, de passos que se vão e que voltam em um ciclo vicioso do qual o termo viagem sempre está distante.


"Olhai por onde passas, os passos que tens tão certos podem não ser corretos. Há uma ponte muito velha da qual a sua visão diz que não pode atravessar. A superfície balança com qualquer brisa, mas ela ainda está intacta. Atravesse, com pressa, com certeza? Claro que não, mas atravesse. Mesmo que alguns pedaços de chão caírem, mesmo que o céu pareça uma enorme janela, mesmo que a cortina seja a sua morte. Mas por teus passos tão certeiros, mais que prolixos, passos teus, passos meus, passos de quem por ali apenas passou"

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Whispering noises

Passei a apreciar as noites em claro pelo silêncio terno,
pelas vozes cheias de estresse e cansaço.
É na cama que não ouço, é no berço matutino que não
há problemas maiores que um lençol amassado ou
um travesseiro gelado.

Em prédios cujas luzes ainda se apagam, os passos
são mais lentos, a gentileza floresce às duas horas
para com o vizinho do andar de baixo.

Não se usa salto e secador, usa-se o sussurro
que nem é tão usado, mas que neste período está
ficado em ser somente sussurro e não voz,
um grito não ouvido, soluço comprimido.

A madrugada nunca foi silenciosa.
Só há a vontade de mantê-la calada
na prisão de urros e delírios.