terça-feira, 9 de outubro de 2012

Write down that idea

─ Sabe, eu fico imaginando como tudo seria se eu não tivesse vindo morar com a tia Mimi.
─ Ué, como assim?
─ Se eu tivesse ficado com o meu velho, se nunca conhecesse de fato a dona Julia, como tudo seria?
─ Acredito que bem diferente.
─ Será?
─ Não sei, só disse por breve reflexão mesmo.
─ Hmm. Talvez eu não sentisse tanta falta dela, essa dor que vem dentro de repente às três horas da madrugada. É foda cara, eu não posso nem pegar o violão porque a tia Mimi não deixa, diz que os vizinhos irão chamar a polícia. E se pego e toco baixo, ela cutuca meu chão com o cabo da vassoura. Então descubro que não tem polícia e nem nada, ela só estava querendo dormir.
─ É compreensível. Acho que ela está abalada também. Mesmo com a luta dela em te tirar da dona Julia, ela gostava da irmã.
─ Gostava, só é um pouco durona.
─ E parece que genética fala tudo, não?
─ Se foder com isso, Paul. ─ Um breve sorriso pela primeira vez, durante a conversa.
─ Mas por que você está pensando nisso?
─ Não sei, eu penso em muitas coisas. Estou parado e minha cabeça vai longe. Desde elefantes africanos até o Vietnã.
─ Ué, e por que logo o Vietnã?
─ Também não sei, mas tenho uma simpatia estranha com ele. Como se algo fosse acontecer, e eu quisesse cuidar.
─ Do Vietnã?
─ Também, mas das pessoas. Eu gosto de cuidar, e gosto que me escute.
─ Sem problemas, eu meio que sabia que iria me chamar hoje.
─ Ah, é? Eu ando te chamando muito.
─ Sim, meu pai já perguntou porque ando com as roupas rasgadas.
─ Sou o ativo, hein?
─ Hahaha, palhaço! É foda subir nessa árvore todos os dias, acho que estamos acordando os pássaros.
─ Existem pássaros com insônia também.
─ Mas existem pássaros dorminhocos.
─ E existem pássaros pretos.

Silêncio...

─ Espera... Você tem uma caneta aí?