quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Don't grabbed me. It's the end of an era.

 

E as alças que tanto amarravam, finalmente, arrebentaram deixando marcas físicas. Dessa vez não houve dúvidas sobre tantas cicatrizes no círculo de uma alma. Não há tempo suficiente para vivenciar todos os anos violentos que foram cravados no fundo daquele casco de navio, cheio de buracos. 


A maré comporta-se diferente durante a tempestade, contudo, os turistas não tinham do que reclamar, ali a maré era apenas um lago patético envelhecido pelos anos que se passaram.


Mas as máscaras de lagoas não duram tanto tempo, e, aos poucos, o que nos é oferecido por décadas de refeições mal digeridas acaba virando exibição em um menu público. Todos podem ler as receitas perversas que, enfiadas goela abaixo, ainda existem nas paredes do estômago dos injustiçados. 


Na brutalidade de tubos pálidos, onde apertado, não havia como buscar a vida pelo elemento essencial, estourou-se o botão do medo, apertou-se a alavanca da coragem, e não havia como errar, não há maneiras de retroceder aos impactos que a vida bruta causou. O solo de folhagens secas se ilumina a cada passo dado.



Longe, longe, longe.


Onde é que será, longe o suficiente, para que os canos jamais sejam lesados? Consumados pela tristeza, bestificados pela ausência de outras vidas tão dependentes, paredes de proteção não permitem a entrada indesejada do mofo que há lá fora. 


Estás bem capitã? Quantas rotas daqui até seus sonhos?

Passagem para dois. 

domingo, 1 de março de 2020

They blame me


Então eles me culpam por não expressar tristeza.
Eles me culpam por não haver pranto, tensão facial
ou mesmo desespero.

A ausência de melancolia em momentos exigidos,
como se o corpo humano fosse uma máquina
onde há uma torneira para ser ligada quando a sociedade exige.

Onde estavam os apontadores, os moralistas e os cidadãos
quando a torneira transbordou e afogou o navio que tentava
permanecer na superfície das obrigações com tantos furos em seu casco?

O quarto cheio de opiniões ofensivas, discursos camuflados, imitando
anúncios de tragédias ocorridas durante a história da humanidade,
tão corriqueiro o mal dentro de tantos, mas quem irá dizer a eles?

O silêncio é a ausência de som, mas é também a presença de palavras,
palavras que não são ditas para o porto não os expulsar, mas quem garante 
que diante de tantas cobranças um dia as alças não irão arrebentar?

As pontes cairão, destruídas pelo cinismo grotesco daqueles que desejam
a morte de tantos, mas te apontam quando a morte deles não te afeta.
E no fundo, todos nós sabemos, que destino ninguém muda e não há 
pranto neste mundo que vá alterar os braços escuros da morte.