sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

My face is my crime

“Eu fui preso por um crime que não cometi. Apareci em um lugar errado, numa maldita hora que fez com que minha vida terminasse junto de minha liberdade. Onde está a justiça? Enquanto o serial killer mata pessoas a todo instante, eu estou aqui. Preso em uma jaula, pareço um animal, sou tratado como um, e ninguém está dando a mínina para o que eu sinto. Porque assassinos não sentem, e pelo visto, nem os seus semelhantes.”

Outono é o tempo em que as folhas começam a cair. Todas morrem, assim como nós. Talvez estas tenham morrido por amor, apaixonam-se no verão, e quando não são correspondidas, morrem. Amor de verão. Quem nunca teve um? O clássico das comédias românticas, com aqueles atores que tem a química certa que o diretor procura.
As pessoas sabem o que vem depois, e mesmo assim não deixam de ver.

Mas quem irá ver a sua comédia romântica? Você tem uma? Ela transformou-se em drama? Ou você não vive em um filme de Hollywood?

Os atores principais sofrem do começo ao fim, a vida não é uma peça teatral. Ela é o reflexo dos ensaios. Tudo, absolutamente tudo pode acontecer quando as cortinas abrem. Porque essas cortinas são as portas que procuramos, as portas das quais um dia também irão se fechar.

─ Você está preso.

Prisão. Vivemos presos na infância, no colégio e no trabalho. Talvez, um dia em algum asilo. Nunca teremos uma liberdade concreta. Por isso a frase: “Cair na estrada” soa tão cobiçada pelas pessoas.

─ Por quê? Eu não fiz nada.

A mesma frase. Quando ouvimos o: “Eu preciso falar com você” logo pensamos que não fizemos nada. Mas fizemos, pois se não tivéssemos feito, não pensaríamos nisso logo de cara.

─ Diga isto para a vítima, ela o reconheceu.

Como? A dúvida é uma neblina que nos atormenta, amedronta e tira nosso sono. Quem dorme na neblina? A neblina da viagem que um dia faremos. A neblina dos corpos machucados que pairam sob o ar. A neblina do crime que insiste em ficar.

─ Mentira.

A única coisa que machuca, que fere, que dilacera, que mente. A mentira mente. Mente para a alma e para o coração.

─ É ele. Ele quem fez isso comigo.

A confusão de pensamentos que começam a nascer. Teria ele feito o que ela diz que ele seria capaz de fazer? Não, não conseguia se lembrar. Mas bebera em uma festa, talvez alguém o drogou? Como negar algo que não se tem certeza? E se realmente fizera? Se ela estivesse falando a verdade? O reconhecera. Vira seu rosto com horror, os olhos cheios de rancor, dor, quanta falta de amor.

─ Culpado.

As leis são claras, como as leis da natureza. Apesar de o homem interferir tanto no mundo, não há como parar de ter sede pela justiça. A viagem vai começar. Mesmo depois de sentir uma agulha perfurar a pele que julga ser mal lavada, ouviu uma voz em sua cabeça.
Muito clara. Soava como uma melodia que ouvira uma única vez na vida, ainda na infância.

"Os relógios são traiçoeiros, as pessoas não sabem analisar. Quando a noite vem, as pessoas malvadas começam a brincar. Brincam com o prazer, levitam em plenos pensamentos conspiratórios. Os crimes acontecem, e as pessoas começam a chorar.
Lágrimas de vítima, lágrimas de gente culpada, lágrimas de pessoas que encontram algumas almas rasgadas. Outras perdidas por não saberem o motivo ao certo. Não sabemos. Mas algo é notável. No mundo inteiro, em cada continente, em cada ilha e em cada geleira há pessoas com nossos rostos sem grau de parentesco. O sétimo número é aquele que diz ser o certo. Há sete faces, sete almas, sete corações e sete pessoas convincentes. Mas por onde você andou? Agora é tarde, pois não pode provar que das sete faces, és o sexto inocente."