Há pares de olhos no mundo
que enxergam muito mais. Não é preciso ter uma codificação mutante para isso.
Basta apreciar vagarosamente o que há de mais belo nesse planeta chamado Terra,
como por exemplo, eles. Suas sobrancelhas quando
juntas de um cenho franzido fazem todo o sentido. A expressão de “estou puto
com isso” ou “aquele cara está mesmo sendo tão babaca com você? Deixe-me
quebrá-lo em alguns pedaços e usá-lo como tapete para minhas botas”. Sim, os pares de olhos por
mais que se mostrem assustados ou mesmo quando dão risada de um homem bravo,
realmente gostam disso. Claro que toda raiva tem um limite, eles não possuem a
síndrome de Estocolmo para se apaixonarem por psicopatas que querem nos privar
do mundo. Longe disso, esses sim. Detestamos e descartamos mais que coringa em
jogo de baralho.
Os braços. Quando seus
pelos estão eriçados por estarem com frio e ao mesmo tempo negarem porque acham
que o casaco deles nos pertence. É claro que nos agasalhamos! Esse par de olhos
sempre sai com mil jaquetas. Mas acontece que o tempo adora dizer que nunca
será o suficiente, e involuntariamente abraçamos nosso próprio corpo para
mandar a sensação de gelo para o inferno. E prontamente vem uma peça. Pode ser
uma jaqueta de couro, um casaco verde militar com algumas estampas em relevo mal
costuradas com suas bandas favoritas. Ou um blazer escuro que mesmo sendo
enorme, parece se encaixar em nossos ombros perfeitamente como se fosse nosso,
desse par de olhos e não deles.
Suas bocas quando mordidas
por tensão nos dão tesão. Seus dedos apertando um volante nos fazem imaginar
quanta força mais eles são capazes de ter. E isso não tem nada a ver com o
status de possuir um carro. Esse mero par de olhos não está ligando para isso,
pode ser até uma Kombi roubada. Seria divertido vê-los passar as mãos pelos
cabelos em sinal de nervosismo porque fomos presos. Gostamos quando temos
entradas para eventos, mas apreciamos mais ainda as entradas bem marcadas de seus
quadris que se movimentam num vai e vem sensual quando nos ensinam uma música
latina. Parece que as notas saltam do disco e nos cercam, dançam com a gente. O
dó, o ré, o mi. Todos fazem fila para poder te tocar, mas eles não sabem qual é
a sensação. E por essa razão eu nunca quis ser uma nota musical. Porque o único
local que elas podem realmente tocá-lo será em seu ouvido.
Seus cílios longos nos
olham por cima do livro que está lendo. O gostoso som da página velha sendo
trocada por suas mãos nos causam uma inveja repentina. Queremos ser viradas,
lidas, sentidas. Transformar a sua vida e ser transformada por sua consciência
que entra em estado de êxtase quando nos terminam de ler. O sorriso de canto
nos cerca, ambas as mãos nos bolsos daquela calça de sarja marrom escuro
chocolate que combina tanto com o tom de pele de seus punhos. Aliás, poucas
coisas parecem tão certas como quando suas mãos estão nos bolsos laterais de
sua calça.
É como se um novo mundo
estivesse para ser descoberto ali. Algo fantasioso. Qualquer coisa dentro nos
faz acender. Um isqueiro, uma chave, um mp3, uma agenda com seus poemas mais
sacanas. É, quando vocês escrevem e nos deixam ler é como se estivessem
alargando mais esses bolsos e nos dissesse para ir até vocês para dar uma
espiada ali dentro e conhecer quem são os homens.