domingo, 1 de março de 2020

They blame me


Então eles me culpam por não expressar tristeza.
Eles me culpam por não haver pranto, tensão facial
ou mesmo desespero.

A ausência de melancolia em momentos exigidos,
como se o corpo humano fosse uma máquina
onde há uma torneira para ser ligada quando a sociedade exige.

Onde estavam os apontadores, os moralistas e os cidadãos
quando a torneira transbordou e afogou o navio que tentava
permanecer na superfície das obrigações com tantos furos em seu casco?

O quarto cheio de opiniões ofensivas, discursos camuflados, imitando
anúncios de tragédias ocorridas durante a história da humanidade,
tão corriqueiro o mal dentro de tantos, mas quem irá dizer a eles?

O silêncio é a ausência de som, mas é também a presença de palavras,
palavras que não são ditas para o porto não os expulsar, mas quem garante 
que diante de tantas cobranças um dia as alças não irão arrebentar?

As pontes cairão, destruídas pelo cinismo grotesco daqueles que desejam
a morte de tantos, mas te apontam quando a morte deles não te afeta.
E no fundo, todos nós sabemos, que destino ninguém muda e não há 
pranto neste mundo que vá alterar os braços escuros da morte.