quinta-feira, 26 de julho de 2012

There's no way to arrive

Ninguém pode falar tão bem da solidão como uma pessoa solitária. Será? Para sentir solidão é necessário que algo esteja vivo? A respiração é tão indispensável assim? Visitei alguns lugares que acreditem ou não, esbanjam mais solidão do que muita casa abandonada por falência nos anos dourados.

E se falarmos hoje de ferrovias? Muitas pessoas não tem nem ideia de que o Brasil era um país onde as ferrovias mandavam! E literalmente falando! Eram trens de carga gigantescos, com vagões que transportavam coisas variadas, mas hoje não transportam nada além da lembrança de uma utilidade que um dia foi essencial.
Elegantes com seus chapéus para se protegerem do sol, as moças apostavam nos laços e em rendas para que seu estilo discreto e comum fosse chamativo para algum rapaz de cartola e gravata. Houve muitos olhares e até certo atrevimento por parte dele. Imaginem só! Sentar ao lado da moça sem dizer nada. Ou pior, comunicar (isso mesmo, apenas comunicar) que iria se sentar ali mesmo.

Quantos vagões foram testemunhas desse crime terrível contra os tempos?

Acredito que a criminosa nessa história foram as rodovias. Ah! Malvadas! Por que acabaram com todo o glamour dos trilhos? Com seu asfalto quente, contribuindo para as ilhas de calor das cidade metropolitanas. Quem foi que as deixou invadir assim as nossas vidas? Maldito Hitler! Quem disse que ele poderia lotar a cidade de fuscas? Não lembro de uma permissão assinada por você, caro Vargas.

Se estávamos do lado dos aliados por opressão dos Estados Unidos, oh! Tão poderosos! Como o senhor deixou que os fuscas lotassem o Rio de Janeiro? Céus! Por quê?

Hoje as ferrovias choram por seus trilhos enferrujados. Cidade natal do tétano e das velharias que aparentam ser mal assombradas. Há tanta fumaça cobrindo nossas nuvens que internamente os vagões dão risada de nossas faces, eles podem já que foram rejeitados sem aviso prévio.

Para os inconformados que ainda aderem aos trilhos sobreviventes desse massacre ingrato deixo o meu abraço. Sou do time de vocês. A janela que revela os trilhos sempre foi minha melhor amiga, acreditem. Os trilhos são fortíssimos, até mesmo os que estão quebrados. Não há como dizer que um material é fraco se você o joga contra a parede durante muito tempo.

"Se o meio em que vivemos depende de nossas ações por que diabos estamos matando tudo de uma vez? Somos homicidas da vida alheia, da própria vida e da vida de quem amamos. Olhei para o alto e vi um céu rancoroso. Seu cinza não lembrava o prateado, mas sim o chumbo. Como balas de canhão prontas para cair em cima dessa cadeia de mal amados. Hoje é um dia importante para essa aquarela opaca, é dia de lavar os pincéis. E durante tal processo, notar que as cerdas foram ralo abaixo. Se não cuidas de sua pintura e do modo em que ela é feita, a natureza e o tempo lhe roubam a ferramenta necessária."