sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Dreamer

Cientistas podem dizer que respiramos apenas gases, a maioria impuro. Mas eu conheço alguém que não respirava apenas oxigênio, hidrogênio, nitrogênio, etc. Ele respirava muito mais. Quando parava de inalar a fonte de sua vida por questões obrigatórias, sentia-se doente. Fraco, como se fosse vítima de uma doença em estado terminal. Porém, assim que voltava para a sua fonte de energia, era um paciente que fora curado por sorte, e que viveria cada segundo de sua vida sorrindo.

As pessoas a sua volta não tinham dúvidas sobre qual carreira gostaria de seguir, a área não era um grande mistério. Sabiam perfeitamente que ele nascera cantando, e não chorando como a maioria das pessoas nasce.
O choro da vida. Foi o que ele soltou de sua garganta jovem.

E o tempo maravilhoso passou, de forma lenta. Os jovens não gostam quando o relógio atrasa, querem ir depressa. E já está na hora dos primeiros passos. Desajeitados, sem sincronia. Tantas vezes o chão foi testemunha de seus deslizes. Logo, as pernas ganharam equilíbrio, e com seu jeito carismático pôde dançar como sempre quis.

De dois, cresceu com o terceiro talento. Era impressionante como gostava de imortalizar o que via. Com uma sutileza mágica seu pincel dançou como seu segundo talento, e desse nasceu o terceiro. O sol radiava em pingos dourados, assim como a lua em sua aparição aos prateados, mares azulados... Adultos abismados. Ele sabia pintar.

Precisou que o tempo corresse um pouco mais, tinha tarefas como divertir-se. Era importante que cumprisse esse dever, pois sem ele, seria tão amargurado quanto os grandes que o invejavam. Sorria, um riso que afundava qualquer mágoa diária que alguém teria.
Gostava dos animais, quis ser veterinário. Começou a analisar detalhes, por textura e beleza, descobriu-se escultor. Seu quarto fora decorado, como uma selva casual.
Quando deitava a cabeça no travesseiro não fechava os olhos, ele contornava suas orbes para todos os cantos que estavam preenchidos com sua paixão.

Não era perfeito, sofreu do coração. Primeiro amou como nunca pensara que pudesse amar. Ela era tão bela quanto os sonhos de um poeta inspirado. E acreditava que essa fosse a fonte de toda sua felicidade. Enganado... quase perdeu os talentos numa tentativa frustrada de recuperá-la.
Sofreu, passou a ser companheiro das emoções. Seu rosto vermelho como nunca fora, sua alma rasgada, o coração machucado, o amor fora escondido. E agora o que restara? Raiva. Decepção. Vontade de mostrar o quanto doía perdê-la para outro alguém. E mostrou, aplaudido fora no teatro. Descobriu-se ator, nas feridas do amor.

Conseguiu esquecê-la atuando, mas quando vivia sua vida ela sempre voltava. Decidiu descontar em papéis. Todas as palavras que desciam por sua garganta, feito uísque barato que começara a ganhar forma. Um lugar melhor, a tinta sabia trabalhar. Olhou o que havia feito, era bom. Tinha um gosto de alívio misturado com orgulho. Se quisesse, a teria de volta em dois dias. Era só mandar os poemas que havia feito. Eram tão doces que fariam o castelo dos sonhos de uma pequenina formiga.

Passou a viver por si só, um dia após o outro. Anos passando, pessoas mudando, o mundo caindo, as nuvens flutuando. Sensações que eram bem vindas casualmente, outras que chegavam sem perceber, assim tão de repente.

E o garoto é tão sonhador, pois só em sonhos poderia ser quem gostaria. Dentro de uma normalidade que não pertencia a ele, jamais. O filme de sua vida fora narrado por uns, escrito por outros, mas apenas vivido por ele. Contaram-me que sua existência era frase de efeito, talvez seja! Sabemos apenas de uma coisa:



“Como a vida imita a arte”