quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Teddy bear

Eles eram tão grandes, e eu tão pequenina. Oh, sim. Foi graças a uma conversa ontem que lembrei-me de meus queridos companheiros. Estes que substituíram tão bem alguém, pois em meus momentos de solidão precária, lá estavam eles, com seus sorrisos imortalizados por um gesto de cuidado.

Para uns a infantilidade morreu, ou nunca existiu. Já para outros sempre esteve presente, e continuará viva. A sensação que tenho é que fiquei maior, e eles encolheram. E foi de uma forma absurda, pois lembro-me que eram maiores que eu... Ah, quanta nostalgia, não é? A maioria dos textos deste blog está falando do passado, de um passado que sempre senti, e sinto falta.

Porém, procuro diferenciar nos temas, e acho divertido saber a opinião das pessoas quando terminam de ler tudo isso.
Nossa infância foi trancada em um lugar comum, então por que não libertá-la? Segue abaixo uma narrativa especial, para todos que um dia irão libertar a criança que existe lá no fundo desses corações adultos.



Nos lençóis vazios eu sentia a cama quente, o tempo frio correu como sempre corria, daquela forma que irritava-me profundamente. O chão tão gelado me fez recuar de volta para a cama. O que era aquilo? Uma mulher com medo do gelo? Oh, não. Como posso ter medo de mim mesma?
Enfrentei-o de modo normal, o que me tranquilizou foi a ducha matinal, lamentável saber que a conta está atrasada. Bons tempos aquele em que a água era de graça.
Roupas tão desejadas por mim há anos atrás, calçados bonitos e luxuosos. Ah, e as bolsas... Que carregavam todo o vazio de minha vida, mas mesmo assim, divinas.

A máscara que eu tinha sob o rosto não era apenas maquiagem, era a máscara que as pessoas grandes tinham de ter para possuir seus papéis sujos.
Papéis que compram a qualquer um, em qualquer momento. Meu trabalho era bacana, como qualquer escritora amadora poderia sonhar. Redatora chefe de uma revista consagrada parece demais? Para mim nunca é demais.

Alinhar, escolher, escrever, ler, escolher de novo, se irritar, demitir, chorar, sorrir, quebrar... ir embora.

Meus verbos diários, oh! Como são belos, não? Em meu celular um SMS: "Estou indo para a sua casa, preciso te contar algo. Não invente desculpas. Suas secretária não me engana dizendo que está em Paris." 

Que  graça, não? Minha mãe sempre foi muito sutil... Mas algo me perturbava, e eu não sabia o que era.
Algo que me dizia para correr pra casa, como uma idiota arrumando todos os defeitos de minha casa. O problema é que minha casa não possuía defeito algum, eu mesma não mexia em nada para vê-la bagunçada.
Estava questionando-me o motivo de tanta preocupação enquanto deslizava meus sapatos de cetim no chão brilhante do shopping central. Uma vitrine chamou-me a atenção.
Quando aproximei-me dela vi o horror. Era aquilo! Aquilo que estava deixando-me perturbada depois daquela mensagem!

Sai correndo... sim! eu não corria há anos e isso com certeza irá resultar em dores musculares. Dirigi o carro feito louca, uma louca no trânsito como alguns motoristas gentis me apelidaram.
Eu não liguei, dirigi feito "macho" como aprendi em meus anos de adolescência. E parecia tão tarde quando vi a limosine dela em frente ao meu portão.
Eu devia explicar algo à ela? Deveria dizer que a cena em meu quarto não passava de uma decoração viva? Quem acreditaria que tantos amantes em minha cama, esperando-me não era um motivo de escândalo?
Eu estava tão perdida...


Já sem ter o que fazer, demorei o quanto pude com meus passos decepcionados. A casa estava vazia, como esperado. Larguei algumas sacolas no sofá e subi as escadas. A porta de meu quarto estava aberta, e minha mãe permenecia em minha cama, acariciando um de meus amantes.

─ Você não morreu como eu havia pensado.

E então eu sabia que libertar meu segredo era o único jeito de ter forças para viver minha vida. Pois meus amantes sempre estiveram comigo, preenchendo o vazio de um amor que nunca me notou.
E agora alguém estava enxergando o quanto sofri calada, só para mim.
Em minha solidão eles me davam conforto, mesmo que fossem pequeninos...


Um grande amor que perto de mim é imortal.