terça-feira, 25 de outubro de 2016

Chapter eight

Se eu tentasse olhar para o céu nesse momento procurando por estrelas, eu não conseguiria sequer achar uma, pois o céu está nublado com a chuva da madrugada. Por essa razão, digamos que em uma situação hipotética eu conseguisse me deparar com um bonito e estrelado repleto de pontos brilhantes do passado. Eu encontraria os oito pontos mais brilhantes, porque hoje faz oito anos que você viajou sem se despedir.

A sua ausência me ensinou muitas coisas, acredite, sobreviver sem ter sua companhia ao meu lado não foi e não é a melhor coisa que eu faço, mas executo essa tarefa em piloto automático porque não tenho escolha. Você que sempre me ensinou tantas coisas desde pequena porque essa era a sua profissão, deixou algumas folhas do livro da vida em branco, onde eu levei o dever do aprendizado para casa e tive que fazer sozinha, torcendo para que estivesse tudo certo, pois você não iria corrigir uma linha sequer do que eu fizesse. Não mais.

Você deixou em branco alguns capítulos que para uma adolescente como eu na época de sua ausência, eram importantes. Não completamos o que planejávamos desde meus dez anos, a tal festa dos quinze. Não tivemos o brilho e o riso uma da outra quando eu te contasse sobre a experiência esquisita de um beijo todo errado. Você não me ensinou a como levantar de uma decepção amorosa. Sequer esteve presente no meu álbum de formatura da oitava série. Talvez esse capítulo tenha doído mais, é verdade.


Não houve riso seu ao me ver descontrolada na época do vestibular, tampouco ouvi suas preces para que alguma faculdade me aceitasse. Não me pintei de tinta com meus colegas durante um trote porque você não estaria em casa para gritar comigo por toda aquela tinta em cima de mim, não houve mais velas onde você me ajudaria a apagar.


Não houve tempo para você me ensinar a superar minhas notas baixas na faculdade ou mesmo a tentar entender meus professores quando eles não conseguiam me ensinar como você fazia, mas é que realmente não há como alguém me ensinar algo como você ensinava.


Você não me ensinou a me abrir com meus amigos, muitos sequer sabem da sua partida na minha vida, que sim, foi tão repentina. Outros não sabem da insônia que anda ao meu lado ou dos problemas que hoje marcam um braço cansado de apanhar. Eu ainda não aprendi esse capítulo, espero que não esteja muito apreensiva, mas é minha essência. O fechado e trancado para que outros capítulos não se dispersem sem terem sido estudados.


Mas talvez um dia eu abra a porta e deixe que as lições voem se elas quiserem, porque de todos os capítulos dessa doutrina que leio há vinte e dois anos, oito deles sem você, eu perdi o mais importante, o que torna os outros triviais e sem muito sentido.


Algumas linhas tinham que ser escritas porque as memórias estão ficando cada vez mais vazias e opacas. Me pergunto se aqueles dias de glória foram reais ou se toda a felicidade em tantos momentos realmente eram a simbologia mais doce e real da vida que eu um dia tive ao seu lado.