sábado, 12 de maio de 2012

A movie about you

─ Mas isso é muito complicado!
─ Nem é. Quando você pega prática, não consegue largar.
─ Credo! Como um vício?
─ Bem por aí. Mas convenhamos que é um vício artistico.
─ E isso existe?
─ Se eu acabei de dizer, então existe.
─ Muito bem!
─ Nem sempre vícios são ruins.
─ Não?
─ Existe o vício afetivo.
─ Existe ou você acabou de dizer?
─ Acabei de dizer.
─ Então existe.
─ Exatamente!
─ Mas falando sério agora. Quem inventou?
─ Bom, Steve Sasson trabalhou muito em um laboratório da Kodak, sabe?
─ Ah! Dessa eu lembro. Tínhamos uma!
─ É, tínhamos.
─ Sua avó também tinha.
─ Ainda tem! Ela recusou a era digital por uns tempos, mas depois que os filmes ficaram difíceis de encontrar, desistiu.
─ Ela te deu?
─ Ainda não.
─ Mas com certeza vai dar.
─ Pode dar, mas tenho vontade de ter uma Polaroid.
─ Pola o quê?
─ Polaroid! Não é do seu tempo.
─ Nem do seu.
─ Eu gosto de coisas vintage.
─ Vintage? Quantos nomes diferentes.
─ É, retrô.
─ Ah.
─ É aquela que a fotografia sai pelo buraquinho.
─ Mas como acontece aquilo?
─ Também queria saber!
─ Seria um filme diferente?
─ Não faço ideia.
─ Que pena...
─ O que você está escrevendo?
─ Poemas!
─ Aqueles de sempre?
─ É, aqueles.
─ Eu gosto.
─ Gosta? Você nunca me disse.
─ É... não deu tempo.

"E um dia, talvez, eu tenha desejado muito ter dito coisas que não disse. Pois esse maldito dia esfrega na minha cara o quanto eu poderia ter sido melhor. Me abrir mais, mostrar mais sentimentos. Ser mais amiga, ou talvez, apenas uma boa ouvinte. Das horas de radinho de pilha, não me arrependo. A única coisa que nunca poderei compreender foi o motivo. O que causou todo o terror, a desgraça e o horror que vivemos. Não. Nós não merecíamos. Todos podem servir como nossas testemunhas. Eles sabiam que nossa relação era inatingível. Mas alguém ousou rompê-la. E me desculpe se matar é um crime, mas eu o faria. Rasgaria a enfermidade para tê-la ao meu lado."