domingo, 13 de novembro de 2011

Gold's wall

A casa me sufoca. É a borracha que tenta inúmeras vezes apagar as minhas ideias. Como se não fosse o bastante, cada cômodo sabe como prejudicar e persuadir seus habitantes. É curioso que eles falam, mas falam uma linguagem da qual eu não consigo entender, assim como não posso crer que continue existindo.
Deveria ser língua extinta, pois se ninguém falasse como tais cômodos, as casas não fariam o que essa faz.

Muitas vezes me pergunto se não há nenhum centímetro capaz de falar outra língua, se no fundo, todo o cimento e azulejo que cerca os arredores das paredes, realmente fazem aquilo por acreditar que está certo.

Tudo começa na garagem.

É ela que zomba, que goza de sua liberdade e me diz que a partir de dali, eu estou presa. Ela livre. A gozação que ela demonstra é da mais desleal, pois ela não sabe o que é ser presa. Mas eu sei.

A sala é o ambiente em que os cômodos ficam juntos, é o lugar onde eles discutem suas ideias, como criticar aqueles que demonstram ser diferentes. Ganha quem for o mais cruel, e para falar a verdade, eu já vi muitos empates ali. E dos grandes.

Quartos podem me ajudar, ou não. Sempre haverá o meu favorito, repleto da minha essência. Ele me diz que ali tenho um lar, que naquele canto eu posso respirar sem sentir impurezas miseráveis grudar em meus pulmões como adesivos malditos. Eu sei que quanto mais adesivos eu tenho, mais perto da ignorância chego. E isso me apavora.

Os banheiros são imparciais, eu os respeito. Até porque, se eles não me prejudicam, tudo está bem.

A cozinha. Ah! A cozinha. Ela é a pior. O cômodo onde você é obrigado a ir para sobreviver, mas todos os dias volta entre a vida e a morte.
Ela lhe dá veneno em forma de água, lavagem em forma de comida, obrigações em forma de tudo o que for seu ponto fraco. Ela não liga.
É um campo de concentração, onde só o mais forte sobrevivem. E inúmeras vezes, eu sobrevivi. Se não, como estaria lhes contanto essa história?

"Compraram a minha casa. Quando disse para as pessoas elas tomaram um susto perguntando-me se eu não estava infeliz. Como estaria? Aqui está a prova de que sentimentos tem preço. Isso me deixa aborrecida, mas se a compraram, por que eu deveria reclamar? Gostaria de saber quanto vale o meu ódio, a minha decepção e a minha angústia. Também gostaria de ter conhecimento se seus novos habitantes irão demolir as lembranças de cada cômodo. Quando falo com as paredes, elas me respondem em uma linguagem não verbal. Entristecem rapidamente, mas quando eu menos espero, a do canto esquerdo me diz: Você precisa entender que um dia nós cairemos por lhe proteger. Nenhum cômodo conseguiu tal proeza, e ficamos felizes de cair. Porque quando isso acontecer, você ainda estará de pé. Percebendo que sempre foi maior que esta casa."