domingo, 5 de fevereiro de 2012

Darkening dusk

Ele estava cansado de sempre acordar do mesmo jeito, sozinho. Desejava que algo estivesse diferente, um dia dormiu ao contrário, posicionando os pés na cabeceira da cama, estava insatisfeito. Olhava para a janela esperando a mesmice ir embora. Ela deveria pegar a mala pesada, dizer adeus e partir.
Não, não. Nem precisava dizer adeus, era só ir embora mesmo. Se quisesse, poderia até deixar a sua mala ali, não iria fazer diferença. Nem se daria ao trabalho de jogá-la no lixo. Não era questão de guardar lembranças, só não valia tal esforço. Haviam quatro canecas sujas de café em cima de sua mesa, que como sempre, estava um caos. Não para ele, claro que não. Arrastou os pés até a cozinha, abrindo o armário para buscar a quinta, muito trabalho abrir-lo e fechá-lo! Resolveu deixar aberto mesmo, sem pensar que daqui algum tempo iria bater a testa ali, muito alto para tanto desleixo!

O café descia pelo filtro não muito higienizado, ecoou um barulho que ele detestava: Terminou. Faria outro mais tarde, mentindo para si mesmo? Estava na cara que levaria alguns dias para fazer, iria comprar no bar da esquina para mudar de ideia e buscar uma garrafa de vinho. Com esse pensamento, sua lavanderia virara uma mini adega. Havia várias garrafas que esperavam alguém, seria melhor beber com alguém especial. Mas não qualquer um. Seus amigos não sonhavam que havia tanto vinho barato nos armários que supostamente guardavam sabão em pó. Mas quem disse que vinho não é limpeza? 

Limpa-se desgostos.

De volta a janela, estamos contemplando o nada. Nas ruas pessoas passam apressadas, conforme as horas correm, elas desaparecem. Relógios! A solução das pessoas indesejáveis, ajuste os ponteiros para a hora exata em que elas dormem, e por fim, elas realmente irão dormir.

Soltou a fumaça do cigarro pelos lábios, tentando formar aquelas argolas que viu em algumas fotografias. Difícil, engasgou na primeira vez, na segunda frustrou-se, não houve uma terceira. Apenas tragou. Nada sob nada. Vazio fundo, livros abertos, páginas viradas, silêncio completo, caneca. As luzes dos postes já estavam acesas, a iluminação fazia com que ele enxergasse melhor o concreto. Duro como deveria ser, de má qualidade como todos esperavam.

"Os dias nem sempre devem ser perfeitos, assim como sabe-se que eles não existem. Dias são dias, noites são noites e tarde é a linha de minutos que separa o dia e a noite. Ela é sua amante. A noite ama a tarde, o dia não sabe que a tarde prefere a noite. O dia inseguro torna-se ruim, a tarde sente-se indiferente, a noite mostra que é melhor esquecer, segura a tarde pelos braços e a faz brilhar. A tarde é gostosa, a noite deliciosa, o dia não pode entender o que se passa, então vai embora. A noite envolve a tarde e vira apenas noite."

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