sexta-feira, 2 de maio de 2014

Cela XVII

Riscou um fósforo perdido pelo rodapé das paredes secas e com pouca luminosidade. A única janela estava escura, deveria ser outra noite não notada e sentida pela ausência quando esta fosse embora. Os ruídos diminuíam conforme os ponteiros curiosos corriam, aparentemente todos temiam tais ponteiros, pois sempre os observavam com as íris preguiçosas lamentando pela corrida ser tão devagar.

─ É como se eu nunca fosse me encaixar neste mundo. Teria alguém cometido tamanha maldade em me trazer para tempos sem a pureza dos clássicos? Oh, como esse vazio em meu peito há de ser preenchido? Que sensação é essa de querer gritar quando todos são surdos e quem vos fala completamente mudo às quatro da madrugada? Por onde andam os violinos tocados pela paixão? Seria a exterioridade tão poderosa a ponto de condená-los também?

Nesta terra, o aroma é fresco, mesmo que ela seja antiga e esteja com vestígios de desleixo. Alguns sons me são familiares, o fogo agindo sobre essas novas texturas que não recordo o nome, mas que são pálidas e capazes de guardar qualquer mensagem. Até mesmo esta, a de um jovem com muitos anos preso em sua ampulheta.

Perdoem-me, mas os grãos correm para os braços da gravidade, eles não me ofereceram cavalos velozes, não há como sair de um lugar tão insignificante, tampouco mapa para os meus serem guiados até aqui. Tão diferentes, me colocam para dormir com atrevimento informal.
Me vestem de branco como a textura de mensagens como essa que tratei de registrar caso eu esqueça quem sou ou para a maior infelicidade do impossível, me lembrar de quem não sou no lugar que não pertenço.



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